O facto de se estar sozinho, vai contra as leis da natureza. Muitas vezes é encarado como uma forma de vida marginal, podendo mesmo levar à exclusão social do indivíduo solitário. Era mais tolerado nos homens do que nas mulheres. O homem celibatário conta com o apoio da comunidade, ao contrário, a mulher fica completamente só, sem homem e sem o apoio da comunidade.
Devido a esta solidão forçada, as mulheres aprenderam a ser auto-suficientes, de forma a serem aceites socialmente, como mulheres celibatárias. Em oposição, os homens não desenvolvem nenhuma faceta da mulher, pelo facto de se encontrarem sozinhos, existe sempre uma mulher na família para o ajudar.
Muitas vezes pode-se confundir os conceitos de individualização e celibato, e estes não são iguais. A individualização está relacionada com a sociedade, enquanto que o celibato está relacionado apenas com o indivíduo, e está mais profundamente ligado à individualização da sociedade; numa perspectiva mais moderna pode-se considerar o celibato como a vida a solo.
Mas quando se fala de celibato há a ter em conta que ele existe tanto no masculino como no feminino. Na parte das mulheres surge relacionado com feiticeiras ou prostitutas, nos homens aparece associada a salteadores e carvoeiros. Ou seja, o celibato aparece sempre associado a forças do mal.
Existe também uma forma de celibato mais radical, e isso acontece quando, um homem ou mulher, se entregam a causas sociais, politicas, militares ou profissionais, deixando de lado a sua vida. E que muitas vezes transporta o individuo através da mobilidade social, para um nível superior.
Uma vida a solo não é especificamente escolhida, no entanto, as pessoas que as vivem não têm a pretensão de acabar com ela.
Quando se fala em celibato ou vida a solo, a tendência é pensar que a pessoa mora sozinha, mas antes do século XIX isso não era uma regra, tanto moravam com as suas famílias como sozinhos; com uma maior propensão para esconder e afastar este tipo de pessoas.
Actualmente as pessoas vivem mais sozinhas, mesmo que isso acarrete inúmeros problemas de ordem financeira, na sua própria habitação, longe da família. O facto de morarem sozinhos afirma a sua autonomia.
Inicialmente, o celibato era mais frequente nas pequenas comunidades rurais; só a partir do século XIX é que os valores começaram a aumentar nas grandes cidades.
As mulheres solitárias são mais numerosas na velhice e na juventude: na velhice devido à viuvez e na juventude devido à sua fuga das zonas rurais para as cidades em busca de trabalho. É difícil encontrar-se uma mulher a viver sozinha, numa aldeia, na sua juventude, pois esse facto não é bem visto pela restante população.
Contudo, a emancipação feminina pode conduzir a um prolongamento do celibato, pois a profissão, ou a entidade patronal, assim o exigem. As mulheres ganham a sua autonomia financeira em troca de casamentos tardios e de curta duração, devido à idade em que se casam.
A solidão é um factor que atinge as várias classes sociais: desde os pobres aos ricos. Os homens pobres dedicam-se à mendicidade, e os homens ricos privilegiam a vida boémia. No caso das mulheres estas entregam-se ao trabalho e à escolarização, independentemente de serem ou não ricas. Em consequência verifica-se um aumento da escolaridade, e um aumento da competência profissional feminina. Mas este sucesso não é suficiente para fazer esquecer uma vida de solidão.
Antigamente as mulheres autónomas eram vistas como desviantes das normas sociais, chegando mesmo a ser estigmatizadas pela sociedade. Uma mulher só tanto poderia ser uma mestra na sua profissão ou uma prostituta.
O celibato pode ser uma das causas do empenho, exagerado, numa determinada profissão, contudo o medo de ser estereotipada como solteirona está sempre presente. Muitas mulheres preferiam o prazer do momento do que uma vida rígida de matrimónio, mesmo que as designassem como marginais.
Depois da Segunda Guerra Mundial, a mulher volta-se de novo para o seu matrimónio, para a construção e manutenção do seu lar. Inicia-se uma evolução tecnológica, lenta, na área doméstica; surgem as máquinas para ajudar as mulheres.
Apesar de estar entre o marido e os filhos, e da lentidão dos avanços tecnológicos, surge uma revolução no corpo da mulher: deixa de usar chapéu, espartilhos. A mulher começa a mostrar o seu corpo, fazendo-o sempre com individualismo. Dentro das suas casas também se verificam mudanças: a mulher assume, no seio do lar, uma posição igualitária ao homem.
Com isto, muitas mulheres começam a se desprender dos homens, iniciando o divórcio.
Em 1919, as portas da universidade vêm entrar o sexo feminino, tornando-as, ainda mais, independentes e fortes.
Esta e outras revoluções femininas, nos Estados Unidos da América iniciaram-se nos finais de século XIX. As evoluções tecnológicas domésticas ocorreram a um ritmo mais rápido, e a mulher ganhou tempo. Assim, originou-se uma evolução na intimidade do lar, entre o casal. Ambos eram iguais e não sentiam a necessidade de uma satisfação sexual fora de casa, fazendo com que as relações conjugais se estabilizassem. Mas nos anos sessenta tudo se desmorona e dá-se uma autonomização dos casais, indo cada um deles para seu lado.
Para além do modelo europeu e americano, existe também o escandinavo. Neste existia uma estrutura triangular: o individuo, a família e o Estado; quando um destes alicerces estivesse abalado os outros dois tinham que ser todo o suporte e fortalecimento. Aqui o mais importante é a autenticidade dos laços sociais entre os indivíduos e os casais.
As mulheres que vivem sozinhas são apontadas pela sociedade como sendo marginais e excêntricas. Este estigma também faz recair sobre elas associações e classificações diversas, muita desconfiança e até censura. Tudo isto porque não seguiram o modelo social e convencional familiar.
Mas não é só a sociedade que usa o seu “dedo” acusador, familiares e amigos também o fazem, pois não resistem à pressão social do modelo celibatário, considerando-o como não normal. Este modelo não dá continuidade ao tradicional modelo familiar, nem prolonga a sua geração.
4 comentários:
Gostei muito de ler o que escreveste. Aliás, gosto muito do teu blog. Vou cá voltar mais vezes.
=)
acho que as mulheres que vivem sozinhas já não são assim tão marginalizadas... são isso sim a prova da emancipação..
Minha querida Ana, como me identifico com as tuas palavras. Sou "vítima" dessa mesma marginalização da sociedade, sejam os outros, os amigos ou a família. Não conseguem deixar de comparar com as situações ditas normais. E ainda chegam ao descaramento de dizer:"ah estás sozinha por que queres". Não. Estou sozinha por que não tenho ninguém. Por que não há ninguém. Não é uma questão de vontade, é uma questão de circunstância...
só quem não recebe na pele, a descriminação, é que acha que não há. Eu afirmo que sou descriminada, é ridículo em pleno sec. XXI, mas sou descriminada como mulher...tanto por homens como por mulheres...infelizmente...
completamente de acordo com o teu texto...beijinho
ps. e tens razão. Um homem nunca está celibatário. Há sempre uma mulher que cuida dele, seja a mãe, e empregada doméstica, etc...A própria sociedade os desculpa. As próprias mulheres, mais rapidamente desculpam um homem do que outra mulher ...
Enviar um comentário