A unidade religiosa cristã passava pela vigilância e contenção do criptojudaísmo e da sua tendência messiânica e universalista que, então, se reanimava, mas também de todas as outras heresias cristãs, nomeadamente o luteranismo, o cripto-islamismo.
A Inquisição era portanto um organismo com poderes extraordinariamente vastos, que atingiam todos os sectores da congregação: religioso, político, social e cultural.
A ela se agregava tudo aquilo que à luz do tempo era entendido como desvio: social, religioso, económico. Sodomitas (homossexuais) e bígamos, blasfemos e feiticeiras, usuários e vendedores de armas e mercadorias defesas ao Islão eram, tal como os restantes hereges, transgressores, marginais a essa unidade religiosa da cristandade.
Cristandade que se queria e afirmava una e universal à volta de Roma e de S. Paulo, mas que vivia perturbada no seu interior com os casos alemão e inglês e, na Península Ibérica, agora, como mais tarde em Itália, com o cripto-judaismo. Cristandade que se queria e afirmava una e universal perante o avanço turco e o que ele representava para o Ocidente.
Daí que se possa, entender que uma da principais funções do tribunal do Santo Ofício fosse “compelir e entrar” no seio da Igreja, extirpando o erro pela força, com uma pena que se desejava exemplar.
Por isso o medo, o terror se encontravam presentes, desde a entrada e a publicação do período da graça ao seu acto final, o auto de fé, com a procissão dos condenados, a leitura pública da culpa e a penitência espiritual ou física. “Compelir e entrar” pelo medo, mas também pela catequização.
A dimensão do Santo Ofício deve ser medida de profunda influência que exerceu na mentalidade dos povos ibéricos, pelas suas tácticas secretas, pelas limitações que causou ao progresso intelectual, pelo empobrecimento a que levou a nação, pelo medo que espalhou assim como pelo método arbitrário e de excepção com que julgou os seus réus. Todos os totalitarismos têm em comum a supressão das liberdades, mas em diferentes épocas e religiões apresentam modelos peculiares e próprios!
A Inquisição, como diria Max Weber, cumpriu a sua função – conservou a ordem social e contribuiu, nos termos da sua própria linguagem para a legitimação do poder dos dominantes e para a domesticação dos portugueses dominados.
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